26.11.09
Que tal "Resilistência"?
Muita gente fala com encanto na importância de se ter resiliência ou de se ser resiliente. O uso é livre (e solto) e quem pratica o uso de tais palavras parece ganhar requintes de modernidade.
Hã? Explicando em poucas palavras, resiliência é a tal capacidade que “deveríamos” possuir para então sermos capazes de lidar com situações difíceis, penosas, complexas, inesperadas e que nos pressionam nas mais diversas situações vividas. Principalmente, no âmbito do trabalho.
É claro que quem inventou (importou) o termo (da Física) sabia do que falava. Tratava-se de apontar uma das características desejadas do profissional moderno, capaz, não simplesmente de suportar o "impossível", mas de se adaptar a um mundo colorido pela imprevisibilidade e pela incerteza.
A metáfora colou então na figura de um novo profissional “flexível”que, em tese, deveria se motivar frente a esses “desafios”. O próprio conceito popularizado de Inteligência Emocional reflete esse paradigma quando aplicado a realidade de quem trabalha e que é avaliado por seu potencial versus seu desempenho.
Tudo isso pra defender o que alguns entenderiam como o oposto daquilo que qualifica a resiliência: a resistência. Não ouso dizer que temos que endurecer sem perder a ternura, mas podemos escolher reafirmar aquilo que dá o sentido legítimo às nossas ações mais humanas. Reafirmar princípios, em torno da ética e não de um moralismo caolho; exibir sentimentos humanos sem precisar ser piegas. Por tudo isso, resistir. Reagir afirmativamente. Resistir sempre a mudança confundida como um valor e não como contexto de nossos tempos fundados na individualização, competição e produtividade.
E se mudar permanentemente ganhou ares de algo positivo, bonito e que adjetiva o que é "moderno", e ser capaz de aceitar e adaptar-se a transformação virou competência valiosa para a vida, (só) nos resta saber distinguir, para não opor, a competência adaptativa e mutante necessária expressa na resiliência, daquilo que não é moderno, nem tradicional, pois atemporal, que é a capacidade e a insistência humana em buscar vínculos com idéias e ideais que nos norteiam, dando referência, a cada passo que damos e não a cada parafuso que apertamos.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
- Andre Chui de Menezes
- São Paulo, SP, Brazil
- Administrador e sociólogo de formação, publicitário na ocupação atual. Descobriu que pode ser legal divulgar certos pensamentos dele, sobre fatos, questões ou mesmo futilidades, desde que isso sirva pra alguma e qualquer coisa. Pra ele e ou pra você. Sem nenhuma pretensão do que isso pode significar.
André
ResponderExcluirNão sei se resilistência ou resistilência, mas acho que você tocou em algo
essencial. É preciso, ao mesmo tempo, termos flexibilidade e plasticidade para
abrigar e processar o novo que permanentemente emerge, mas resisitir em termos
de valores que, se comprometidos, podem nos jogar na enxurrada da barbárie
competitiva e individualista.
Menezes
É surpreendente a capacidade dos RHs da vida, de criar novas caracteristicas "essenciais" (convenientes) para a "persona" profissional como forma de inverter os valores e imputar ao empregado a culpa pela óbvia e compreensivel dificuldade deste em lidar com a politicagem insuportavel do mundo corporativo, o desrespeito às suas necessidades pessoais e o crescente comprometimento da sua qualidade de vida.
ResponderExcluirE não é que blog tbm pode ser profundo? Orgulho de vc Me..
ResponderExcluirPra todas as esferas da nossa vida, sejam elas o trabalho, o namoro, o casemento... acho que o grande desafio é saber distinguir pra si mesmo a diferença entre uma "boa resistência" e o "flexível que faz mal".
Resistir a algumas fases ruins, desafios, cobranças, acho que faz parte... o delicado é conseguir saber quando você não esta sendo flexível demais e passando por cima dos seus limites e princípios....
Agora ser "resilient" ou seja "springing back" "recovering readily" me parece um conceito bacana já que deixa implícito que todos nós também vivemos momentos de inverno.